Como fechamento de viagem de estudos e trabalho à Belo Horizonte fomos tomar cerveja com um arquiteto local que como arquiteto pensante possui opinião formada a respeito de diversos assuntos, eu estava acompanhado de amigos da faculdade. A conversa transcorria leve e normal em um bar muito agradável, até que o nome de Oscar Niemeyer veio à mesa. Logo vi que ia sobrar para mim, um “filhote de Niemeyer” como ele mesmo disse. Em meio a tantos pontos de vista, resolvi jogar a célebre frase: “Arquitetura não é importante, importante é a vida”. Foi o suficiente para o fim do debate.
No entanto, ao contrário do que possa parecer, ao dizer isto Niemeyer certamente não estava diminuindo nossa profissão, estava apenas situando-a numa escala de valores e condicionando a outros aspectos da vida. Claro que uma pessoa com a vida equilibrada pode admirar e “consumir” arquitetura, seja através de seu próprio espaço particular ou do ponto de vista artístico e quanto mais sensível o espírito, maior o grau de absorção da arquitetura.
Mas como pensar em arquitetura quando o que falta é o arroz com feijão? Numa escala maior, o que sonhamos é um mundo menos desigual, que tenha estas necessidades básicas, fonte de tanto mal-estar, eliminadas. Neste mundo não haveria apenas ilhas de arquitetura e as cidades talvez não tivessem tantas construções ruins, as pessoas parariam para notar o espaço ao redor sem medo de um assalto ou de serem atropeladas pelo fluxo dos desesperados que, talvez, estivessem agora sossegados para absorver e admirar algo. Independente de preferências estéticas, profissionais de arquitetura deviam ser mais conscientes das imensas desigualdades e esquecer um pouco as ilhas de fantasia e elucubrações intelectuais para defender uma sociedade mais justa e equilibrada. A própria sobrevivência da boa arquitetura depende disso.
Por mais inocente e quixotesco que possa parecer; “Arquitetura não é tão importante, importante é a vida”.
AC